O dia 10 de Junho é mais do que uma data no calendário — é uma celebração da identidade, da língua e da alma portuguesa. Conhecido oficialmente como Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, este feriado presta homenagem à memória de Luís de Camões, o maior poeta da língua portuguesa, falecido nesta data, em 1580.

Mais do que exaltar feitos passados, este é um dia para pensar sobre o que Portugal representa hoje, para os que aqui nasceram e também para os milhões que vivem além-mar. É uma data que une — ou deveria unir — o país, dentro e fora das suas fronteiras.

A figura de Camões representa não só o esplendor da literatura lusitana, mas também o espírito de resistência e de grandeza que atravessa séculos de história: das caravelas às crises económicas, dos fados às inovações tecnológicas. Camões é símbolo da língua que nos une e do olhar crítico que nos acompanha.

Nas ruas, o 10 de Junho mistura cerimónias solenes, discursos oficiais, desfiles militares e manifestações culturais. Mas, para muitos portugueses, a data também é um lembrete agridoce: do que fomos, do que somos e do que ainda queremos ser.

Atualmente, parte da população olha para Portugal com um misto de orgulho e frustração. Orgulho pela segurança, pela história, pela beleza natural e cultural do país. Mas também frustração com a precariedade, os baixos salários, a dificuldade em manter os jovens no território e os desafios no acesso à habitação.

Entre os mais velhos, há nostalgia. Entre os mais novos, alguma desilusão. Mas, em todos, persiste algo profundamente português: a capacidade de aguentar, adaptar-se e continuar. Com humor, com queixa, com esperança — às vezes tudo ao mesmo tempo.

Para os emigrantes, o Dia de Portugal ganha contornos emocionais. É a ponte entre o que ficou e o que se constrói fora. É o reencontro com a terra mesmo sem pisá-la. É a certeza de que ser português não se apaga com a distância.

Num mundo cada vez mais global, Portugal continua a reinventar-se. A gastronomia, o turismo, a tecnologia, o desporto e a cultura popular ganham força lá fora. Mas cá dentro, muitos ainda lutam por dignidade no dia-a-dia — nas escolas, hospitais, serviços públicos e empregos.

Por isso, o 10 de Junho é também um convite à escuta. Que possamos celebrar com orgulho, sim, mas também com responsabilidade. Com olhos abertos para a realidade dos que vivem nas margens, dos que não conseguem viver com o salário que ganham, dos que continuam a sair por falta de oportunidade.

Portugal é lindo. Mas precisa continuar a ser justo. Para quem fica, para quem chega e para quem um dia quer voltar.